Geladeira guarda livros na Rua da República

Eletrodoméstico sem uso ganhou cor e utilidade nas mãos da empresária Lena Sanchotene Pinto, que tem o cuidado de disponiblizar a geladeira na calçada enquanto a loja está aberta, de segunda a sábado, das 9h às 21h

Com a porta aberta e recheada de livros, a peça é um convite à leitura ao ar livre. E não precisa ficar de pé para ler: ao lado da geladeira tem mesa e cadeiras para que a sua leitura seja ainda mais prazerosa.

Quem está por trás da ideia que causou enorme simpatia no bairro jovem e alternativo da Capital é a empresária Lena Sanchotene Pinto. Proprietária de uma loja de vestuário e acessórios para homens e mulheres, que leva leva o seu nome, ela teve conhecimento de uma iniciativa semelhante em uma cidade do Distrito Federal (DF) e replicou a ideia.

— Assisti a uma reportagem na televisão em que um jovem disponibilizou uma geladeira com livros na praça do bairro onde mora. Achei muito interessante, pois ele deu uso aos livros acumulados que mantinha em casa e possibilitou que outras pessoas pudessem acessar aquele conteúdo de modo fácil — conta Lena, em um bate-papo com a Be220 | conteúdo digital.

Todos os dias, a empreendedora tem o cuidado de abrir a loja, tirar a geladeira para a rua e posicioná-la na calçada, ao lado de uma mesa e de algumas cadeiras. O ritual segue o horário de funcionamento do estabelecimento: das 9h às 21h, de segunda-feira até sábado. Em dias de chuva, o eletrodoméstico fica no interior da loja, mas, permanece à disposição de clientes e daqueles que gostam de ler. Vale lembrar que não tem qualquer custo para utilizar o serviço.

— As pessoas podem retirar os livros para ler aqui, ou em outro lugar, e depois devolvê-los à geladeira. Quem tiver livros que não utiliza mais, pode doá-los para que outras pessoas aproveitem a iniciativa — explica a idealizadora.

Veja mais fotos da iniciativa:


Entre as obras disponibilizadas, há, também, opção de leitura para os pequenos.

— Costumo colocar os livros voltados para o público infantil nas prateleiras que ficam na parte de baixo, para facilitar a identificação e a retirada por parte das crianças.

A ideia ganhou cor e vida com a colaboração de um profissional que utilizou a arte do grafite para personalizar o eletrodoméstico que agora armazena boas opções de leitura. Na porta, foi estampado o nome de Lena.

A empresária mora na Cidade Baixa há quase 30 anos e é apaixonada pela região. A loja tem menor tempo de vida — 7 anos —, mas, não por acaso, está localizada na Rua da República, próxima do cruzamento com a badalada General Lima e Silva. O amor pelo bairro a fez ser criteriosa ao escolher o local onde ficaria o estabelecimento.

O carinho especial  e o perfil de empresária também serviram de motivação para levar o agrado a moradores e clientes.

— Quis oferecer uma biblioteca a que todos pudessem ter acesso, sem causar qualquer tipo de barreira. Vejo como uma iniciativa simples, possível de ser implantada por qualquer pessoa no bairro onde mora — sugere.

Lena trouxe dois livros de casa para dar início ao projeto. Nos primeiros dias, clientes e moradores olhavam para a geladeira, sorriam e ainda mostravam-se tímidos. Mas, em pouco tempo, eles passaram a utilizar os livros e a repor novas obras para a coleção. Hoje, são dezenas distribuídas nas prateleiras.

Entre os assíduos frequentadores, está um morador de rua que vive no bairro Bom Fim, próximo dali, e costuma visitar o local para retirar os livros e ler. Ele pegou gosto depois de participar de um grupo de leitura oferecido a partir de um trabalho social naquele bairro. O marido de uma cliente também costuma visitar a geladeira quase que diariamente para “devorar os livros”, segundo a empreendedora.

Matéria e sessão de fotos produzidas pela Be220 | conteúdo digital.

compartilhe: